A Crise está para os portugueses como a virose para os médicos: serve para justificar tudo. O princípio – Crise vem do latim e tem a mesma equivalência da palavra vento. Ou seja: é um estágio de alternância, o qual, uma vez ocorrido, não volta ao que costumava ser. Achou complicado? Pode sempre dizer que tem a cabeça cansada da Crise. Vamos lá ser sinceros, a Crise veio dar um jeito do caraças! A Crise, para começar, permite abusar de um dos nossos verbos favoritos: adiar . O que mais se ouve é - “Isso agora, com a Crise…não pode ser nada. É melhor ficar para outra altura” , - …mas eu só queria dar um rim…nada mais , mesmo antes de abrirmos a boca , já estão a falar da crise…essa maldita palavra.
Porque é que o empregado do café passou a ter cara de mau?! Porque é que começou a atirar com a bica para cima do balcão?! Porque é que a colher tem resto de chantily misturado com batom?!! É a Crise. Com a Crise, já não temos direito aos pequenos mimos, como: a educação e os serviços mínimos. Isso fazia parte dos tempos em que isto era uma civilização e não um bando de gente a tentar sobreviver, como é agora. Se uma pessoa diz: “Mas…eu gostava de ter uma colher sem batom, porque esta nem sequer é a cor que fica bem como o meu café “, tratam-nos como se fossemos uns seres desprezíveis; preocupados com minhoquices enquanto os outros estão ali a vender duchaisse, (cada vez mais pequenos, e sem fios de ovos, por causa da Crise) para tentar sobreviver. No fundo, somos uns fascistas e uns gajos do passado. E eu não gosto de ser visto assim. Por isso, não digo nada. E até lambo a colher. Porque tive a sorte de apanhar um bocado de chantilly (que é um luxo com esta Crise) e porque: mais vale apanhar herpes labial e juntar-me ao bando do que passar por um sacana de um indivíduo que não está em Crise, ou é insensível a ela.
A educação também passa por alterações durante a Crise. Por exemplo, se há coisa que hoje em dia fica mal; e é considerado de uma enorme falta de educação, é dizer: “vai tudo bem lá na empresa.” - Diz que foi aumentado, o ordinário! Por aqui aumento só de chatice , e de trabalho , e aumento de paciência , e têm de ser muita mesmo!!!
Resumo: se a economia fosse um pronto a vestir, qual era o fato que assentava melhor a Portugal? Um smoking de economia em expansão ou o fato de treino da Crise?…pois é. A Crise é o nosso habitat natural, é como voltar à terra: pobrezinhos mas reconfortados.(Estão a ver a tal cena dos portugueses que foram para França coitadinhos)
Foi Kennedy que disse: “Quando escrito em chinês a palavra Crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade.” Disse isto, mas foi baleado. Por isso, é melhor não ligar ao que ele disse e pôr um capacete se for andar de descapotável nestes dias de sol e Crise.
Já agora não apanhem muito sol na moleirinha , pois com esta crise depois nem dinheiro há para os cremes hidratantes!
Boa semana de trabalho.
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