Hoje vou falar do André!
Têm 10 anos e é portador de trissomia 21 , vivo , esperto e falador , têm sempre um porque na boca , e muitas vezes deixa-me sem resposta para as perguntas que me faz.
O André está entregue a um instituição na qual eu dou uma ajuda , vive ali a 5 anos , foi retirado da família que nunca percebeu que era especial , e é muito mesmo acreditem , têm na expressão do olhar algo que se mistura com felicidade e desejo de ter uma casa , uma família , um lar. Não é difícil de a gente se apaixonar pelo André , ele é bastante cativante e doce , muito meigo mesmo , um dos sonhos dele vá-se lá saber porque , é ter um pato.
Comecei por brincar com ele sempre que ia fazer a ajuda a instituição , e comecei por o visitar sempre que tenho tempo , acabei por ter uma relação bastante cordial com a Drª Maria Fernanda psicóloga , um dia destes acabei por pedir mesmo se o podia levar a ver o mar , depois de todas as formalidades legais lá o fui buscar um sábado a hora combinada , as 14 , ficamos de voltar antes das 18 .
O que eu fiz foi muito pouco a vista do que ele precisa , mas acho que o que eu presentiei como podia , valeu para mim como se a melhor prenda de Natal , o André pelo que eu percebi nunca tinha visto o mar…mas não vou conseguir contar ao pormenor o que se passou , primeiro a reacção e depois brilho nos olhos do André ele estava a viver um sonho , assim parecia.
Chegamos ao carro , ele disse logo , eu sei que tenho que andar na parte de trás , até ai estamos de acordo , e eu pensei que fosse difícil de lhe explicar , eu não tenho qualquer pratica com este tipo de doença , mas há uma primeira vez para tudo , apesar de nos últimos dias andei a ler bastante sobre e como lidar com esta diferença , gosto de lhe chamar assim , pois para mim o André é um menino diferente a cabe aos adultos saberem viver com as diferenças dos outros.
Já sabia que o André é de fácil trato e simples , gosta de pequenas coisas , mas acima de tudo adora o afecto , depois o primeiro choque de alegria de ver o mar , ficou em silencio a contemplar , vento soprava frio nas nossas caras , docemente perguntou se podia ir ali , o ali dele era a areia , local onde por certo se sentiria seguro para chegar mais perto do mar.
Senti que estava a proporcionar algo de diferente ao André , e ali mesmo estávamos ambos a delirar com a experiencia , sentou-se e ficou a olhar o mar , e de forma diferente que ele têm , disse-me:
-É Bonito!!!
Pediu para eu me sentar junto dele , procurou a minha mão e pediu:
-Vamos ali mais abaixo!!
E lá fui com ele , deu-me a sua pequena a fria mão , estava a tremer , não quis estragar nada do que ele estava a ver , e de repente uma das perguntas dele , depois de raciocinar:
-É aqui que moram os peixes?
É , respondi eu, pensei que viessem mais perguntas mas não, ficamos por ali.
Lá continuamos pela beira do mar , o tempo esse passava rápido e estava na hora de voltar , viemos a pé pela rua dos pescadores na costa de Caparica , passamos numa pastelaria , e ele pergunta:
-És rico?
Sorrindo disse que sim!
-Podes comprar-me um bolo?
Claro respondi , entramos , e o André ficou mais de 15 minutos a olhar para a montra , perguntou o nome dos bolos todos a funcionaria que simpaticamente saiu do balcão , e pacientemente falou com ele , resultado , escolheu uma bola de Berlim. Não sei como , mas o André veio até ao carro a comer a bola e a soletrar os nomes todos dos bolos.
Lá fomos para o carro , e de volta a instituição , no regresso, sentado no carro lá estava de olhar fixo para a rua , o André volta e meia viaja no mundo dele , vá-se lá saber o porque , mas parece que desliga e passado muito tempo regressa como se lhe dessem um click.
Depois de chegarmos , ele saiu em silencio , entrou , não falou a ninguém , estranhei e perguntei , pois fiquei preocupado , pois não estava a perceber , então explicaram-me que o André é assim mesmo , interioriza consigo depois dos momentos que gosta , é o sentimento de ter de voltar para ali , fiquei aliviado , mas com o sentimento de culpa de afinal lhe estar a causar aquela tristeza.
Passados alguns minutos , voltou a sorrir , pediu para eu me baixar , e deu-me um abraço enorme , e disse-me:
-Até amanhã!!
E lá foi para a sala onde outros meninos como o André estão , uns com menos sorte outros com mais , mas acima de tudo com enorme respeito por estas pessoas que diariamente tratam destes crianças diferentes.
Vim para casa e a coisa a moer-me a cabeça , estava desolado , afinal o que eu poderia fazer pelo André , e se é que podia fazer alguma coisa , tirei férias este natal sem querer apenas para gastar os dias , mas ao mesmo tempo ainda bem , pois vou fazer de tudo para que o André tenha um natal com uma família.
Para já voltarei amanha , até lá pode ser que autorizem o André a vir passar o Natal comigo e a restante família.